A exposição tem como base o livro “Um efeito de cor” escrito por Ana Maria Gonçalves. A mostra traz objetos, obras de arte, pinturas que fale sobre a trajetória do preconceito dos negros, desde a vinda dos negros, relação com a cultura iorubá e como a cultura que foi trazida e disseminada.
O acervo é muito rico em textos que contextualizam sobre a história, trazem explicações sobre algumas palavras e rituais da cultura yorubá e do candoblé; contam a história de personalidades importantes para a história; falam sobre relatos e memórias; trazem imagens provocativas; fotos dos rituais, da arquitetura brasileira que foi importada para a África; objetos personificados, objetos antigos e vídeos reflexivos.
Com a quantidade de coisas para se contar e expor, o "Um defeito de cor" foi disposto com um hexágono central de casa sala da exposição, onde tem auto falantes recitando um pouco da cultura e do que é falado no livro. 
Arrumação utiliza madeira e base de concreto, para criar mais paredes e faces para expor. A rede, feita com peças iguais e presas em sistema de apoio, permite que seja montada e remontada em outro lugar, aproveita melhor o material usado como base para a exposição e aumenta a área de superfície, já que há peças de madeira no meio da armadura, para ajudar na fixação dos quadros e objetos.
Esse modelo de arrumação possibilitou criar mais área de mostra, onde poderia se pendurado um tecido de um lado e do outro pregado o apoio para fotos/quadros, de forma que uma informação não atrapalhasse a outra.
A rede de madeira permitiu criar um circuito diferente para a exposição, partindo do perímetro da sala, onde ficava a circulação maior, e o centro, que é segmentado através da extensão de um hexágono e suas pontas. No centro, fica concentrado os alto-falantes, com as falas que estão escritas em cada área, convidando o visitante a se sentar, escutar, refletir, analisar e admirar o todo da exposição e a mensagem passada.
Uma das falas era sobre os pretos terem a pedir licença e desculpa por sua cor, por sua cultura, como se a dos brancos fosse a única correta. Os africanos trazidos para o Brasil não deixaram de cultuar suas rezas, seus cantos. Quem tinha vivenciado na África contava e quem não se lembra reverenciava. 
Essa fala me lembrou do filme “A mulher do rei”, como os próprios pretos se prendiam e vendiam para os brancos, em troca de poder e dinheiro.
Logo na entrada da exposição está essa obra interativa em formato de cabaça com fios de miçanga vermelha penduradas.
A cabaça, dentre os vários significados e utilidades para a cultura yorubá, simboliza também a fertilidade, o renascimento, o nascimento, o desenvolvimento e a morte do todo. Alegoricamente ela representa parte do aparelho reprodutor feminino: o útero, onde nós, os seres da criação, somos forjados e preparados para a vida terrena. 
Obra estimula a entrada do visitante no “útero gigante”, vivenciando a alegoria para a cultura yorubá.
Para contar um pouco da história foram espalhados textos pela exposição. Para seguir com a linguagem e objetos da mostra, foram impressos em tecido branco e fixados em pequenas ripas de madeira. 
Nesse textos podemos ver que eles nos trouxeram muito mais do que somente a religião do candomblé. Suas crenças, a riqueza da língua yorubá e os significados das coisas para seu povo tem um brilho e um misticismo a mais por não ter um livro, como a bíblia, para ser passado e ensinando de geração em geração. A cultura, os preceitos e os significados são passados pelos mais velhos.
Analogia ironizando como a grande massa vê o negro indo trabalhar
Analogia ironizando como a grande massa vê o negro indo trabalhar
Estandarte bordado com prédios símbolos de Salvador
Estandarte bordado com prédios símbolos de Salvador
Estandarte de tecidos africanos
Estandarte de tecidos africanos
Cabaças pintadas
Cabaças pintadas
Bonecos com as roupas de cada orixá
Bonecos com as roupas de cada orixá
O mais rico de se analisar nessas galeria de imagens são as misturas de cores, texturas, símbolos e tecidos usados para representar a cultura e a historia. O uso do contraste das cores para destacar uma mensagem, uma ação ou ironizar uma imagem.
Acredito que devido a quantidade de objetos e imagens expostas, a escolha de uma luminância  mais homogenia, sem focar em uma obra específica, foi uma proposta acertada pois permite um contraste simultâneo para as obras.
Caso fosse escolhido outro sistema de fonte luminosa,  causaria ruído visual e consequentemente atrapalharia a percepção visual do visitante. 
A minha reflexão é que a cultura africana, que veio por causa dos escravos, foi negligenciada, criminalizada, explorada porém explorada e incorporada a cultura europeia, trazida pelos nossos colonizadores, de tal forma que atualmente é dificil se falar o que é derivado de um ou de outro. O curioso e repugnante é que somente o "ruim, mal, errado, feio" é associado aos negros e não é valorizado as coisas boas e enriquecedoras que eles nos passaram. 
As vezes me pego pensando na minha vida, no que eu gosto, no que eu vivo, de onde veio essa manifestação cultural, como chegou até a gente, tanto as comidas, lugares que gosto de frequentar, ritmos que gosto de escutar e percebo que a maioria veio da cultura africana.
Desde nova comecei a consumir essa cultura através das aulas de capoeira, posteriormente, ao morar em salvador, a aprender a saborear a comida e a escutar a música. Minha aproximação com a religião candomblé veio já na minha adolescência, por destino a vida me levou a conhecer mais esse pedaço da cultura. Já na fase adulta veio o samba e realmente começar a conhecer, estudar e a trabalhar pra divulgar e acabar com a visão deturpada da cultura africana.
Fico feliz em ver cada vez mais exposições interessadas em contar um pouco mais da história e protagonizar as pessoas negras. Na minha opinião, somente assim vamos conseguir educar nossa população e diminuir o preconceito aos poucos.
Imagens do acervo pessoal da Maria Eduarda Guimarães.
https://museudeartedorio.org.br/programacao/um-defeito-de-cor/

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